sábado, 30 de abril de 2011

Marcha

Com um gosto mal-lavado de manhã na boca,
ele parte sem considerada discrição para a rua
sabe que o olham e o julgam com olhos cheios
que se refletem no argênteo sorriso de vitória
suspensa em goles de glória aspergida,
essa é a resposta à vida estéril que lhe exilou

Pois vive nas horas primeiras desse dia,
o fim do que lhe precedeu e lhe desnudou
em lençois estranhos e lhe disse "não"
entre beijos e rasgos em mãos e lábios
em funérea expansão do desejo ao risco
de ser gasto em ganas de garras à pele caras

Mas é só um intervalo, uma fortuita apnéia
pois na marcha compulsória pós-noite morta
a abertura que o toca também o impele
a tomar não mais o conhecido rumar
e ele volta para casa tão conformado no desamor
que ele olha para janela, em busca da distância
[e se deságua com uma violência e audácia,
que não muito costumeiramente, ele dispensa
não para o nada e ninguém, só para si]

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