quinta-feira, 18 de outubro de 2012

G.H.

Toda a minha casa está à mercê de criaturas sujas e invisiveis
perdido do mundo dos homens, crio mitos e cavernas
regras transcendentes guiam meus passos e me dizem aonde posso pisar
meu gato me segue, seus olhos me valem, pois ele vê das coisas
aquilo que tira à imaculada concepção sua realidade

destituído o lar de sua segurança, tenho uma toca suja
por onde passam os córregos dos subterrâneos das paredes
e de todos os fantasmas e das loucuras que terminaram por me ser
quando eu me perder de minhas roupas e de meus panos de gente

domingo, 14 de outubro de 2012

Sonho recorrente

Antigamente, me doía mais
agora, só vem o tédio e o nojo
Minha tristeza perdeu
todo o prazer de sua prática
Quantos dias e nuvens
choveram nas minhas noites
desde então? Que eu não temo mais
o desconforto da chegada da manhã

quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Velhos hábitos me acossam numa noite quente,
sentir-se jovem é um preço que os ossos pesam
em balanças ocultas de praças por ora desertas,

Mas algo persiste por entre as velhas estradas,
caminhos reais perdidos entre fantasmas fantásticos
afoita, a alma pequena que por tais sendas envereda
sente na pele fina, o risco de tropeçar em algo santo
relíquia de um anônimo demônio cruel e sem rosto

A noite bifurca as cordas que sustentam a pequena máquina,
desemparada, ela se escora naquilo que já não lhe rodeia,
até que, por fim, ela cai, perfeita a transição ofegante
entre o ocaso e a primeva badalada de uma vida que escorre