segunda-feira, 30 de julho de 2012

Meio dia na minha cama

Me vem tão calma agora a sua lembrança
é só meio dia e não tenho porque ter pressa,
mas pensar que já lhe quis tão dentro de mim
e que ansiei com quieto e reticente desprezo
por mim e pelo seu, nossos encontros fortuitos
de cúmplices na noite - para hoje lhe dar lugar
nas primeiras luzes da tarde - e pensar no quanto
já verti por mim e por você, de inconfessado
e mudo pranto, por toda uma geração de homens
nascidos do pó e do vento a revolver, terríveis
- mas essa é a hora má em que as sombras caem -
na cama que já eu quis ser tão somente nossa.

domingo, 29 de julho de 2012

Dancing Barefoot

Um particular pendor
para dar novos rostos
às solidões que me vem
nas febres dos dia tão certos
no fim de outras noites

- E a quieta satisfação de dar às costas ao que resta de você depois de cada pequena crueldade que pinto vermelha e viva no meu corpo. Ser tão mais bruxo quanto mais em cores queimar o fim das noites e das maldades sem pecado da juventude -

A reticência da suspensão,
da virgem afoita no mosteiro -
que são todas aquelas opacas
graças perdidas no meio da vida

terça-feira, 24 de julho de 2012

Ainda de través,
um amor em mim
se mexia e mexia
sem que eu dissesse,
por mais que quissesse,
o nome dele ou ele o meu


Só me restava partir, então,
para perfazer do amor
a sua suma benção
do coração perfilado.
(a traição anônima
do artesão em ofício)

Assim cantam as musas desgraçadas
das ruas sujas; canções que não passam
de hálito quente do asfalto -
mas que homem nas minhas mãos,
não é apenas o afeto cálido?
dos ventos abafados das ruas da minha cidade


sábado, 21 de julho de 2012

Eu desci por suas escadas.
Comigo, carregava minhas músicas,
minhas máximas, meus segredos,
todos em mim abertos no sol,
A púrpura que me cobria finalizava
a liturgia dos meus primeiros dias.
Sozinho, eu fazia da minha juventude
uma reza discreta e de soslaios.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Conversation piece

Mesquinha burguesia afetiva
que pinta seus homens e mulheres
loucos nas minhas paredes.
A febre das formigas em peste
vence os limites privados da casa,
a primeira tragédia vista dos divãs;
"Agora sou cal", besta de ossos
e da clareza do seu próprio veneno

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Cinema frânces (coisas que eu não entendo)

Ainda serei mau assim
com meus ingênuos e ternos amantes:
um dia, o telefone tocaria.
Do outro lado, o primeiro entre os homens,
e sem me sujar de sangue, eu sairia da cama,
da traição que antecede o próprio ato

Se eu fosse Catherine Deneuve
eu poderia falar "eu te amo"
para qualquer um que me comesse
(passavelmente que o fosse)
e ninguém reclamaria disso.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Aerial II

Quando encurta a sombra
e todos os amantes são um só,
no coro negro do bando todo
pássaros grasnando terríveis
presságios da ordem da cama
e os segredos de lençol e traves-
seiro. Para começar algo novo,
mata-se a noite em que se deita
e tem-se algo outro num só cor-
po maciço e antigo.O céu é sem-
fim em mel e as asas pretas caem
sobre mim, sacrifício feliz e pronto
ao deuses perdidos de outrora.
O rito esquecido se perfaz ao cair
do meu sangue enegrecido e do
tilintar dos meus pobres ossos,
que ao fim do meu amor, são tudo
que de mim resta, nos ecos de uma
escuridão que já passou sua sombra
pela minha cabeça mais vezes do que
o sol de uma clara manhã de verão