sábado, 16 de março de 2013

Estava me pondo a vida em procissão
quando decidi um jurar solene para mim:
livre de caprichar minha vida em belas-letras,
bastou-me o outro lado da porta
para avistar, há umas poucas quadras,
o meu mundo de sonhos e fadas
e eu, transmutado, num príncipe encantado

Cioso de sombra e sala,
tenho que esconder o preto da escrita
no branco da tela em que a pinto


Hoje, todo mundo escreve.
e ninguém me pediu permissão

segunda-feira, 11 de março de 2013

Com a cautela que até então só dispensava para
o melhor dos seus dias e suas noites em campanha,
ele mirou no profundo do abismo empoeirado
daquela noite tão qualquer e dada a nós e voltas
e pensou, que por um prodígio de bondade,
algo existiu fugaz, mas certo, no mundo à sua volta.

"Talvez, por agora, nada do que eu tenha vivido
tenha vivido antes ou depois do agora;
- posso ser livre de um passado que não me deixa jamais?
Sim, pois posso viver da escrita e canto alheio
e me demorar os olhos, o corpo, nalguma tarde aí,
como quem não sente prazer com o que sabe ser bom"

Não muito distante de um lugar ruim, ele deu meia volta
e brincou em seus passos de dança e de troça.
Algo qualquer de ameaçador passara raspando por seus cabelos,
mas não sem lhe prestar a devida homenagem.

Assim fazem os deuses subterrâneos e minúsculos,
que vivem terríveis no correr do vento
que tomam para si um acaso ou coincidência
para neles incidir sobre a sua maravilha e milagre
- que lhes roubam os homens sem saber do dom.