terça-feira, 28 de fevereiro de 2012

Pequena reflexão sobre momentos íntimos

- É isso que você quer?
- Sim, é isso que eu quero.
A noite cai e pode passar mais cedo do que um sussurro. Qual a linha que divide tudo em seu devido lugar? Não é ela quem rege a noite e seus amores, mas sim, algum brilho vespertino na retina que alerta aos dedos para o perigo do que se toca quando não há mais luz.
E o perigo é ignorado em sua real natureza. Então, ele é apenas a face mais cristalinamente difusa do momento. Em que momento você se perde e ama? Isso eu não pude perguntar. Ele me abraçava e era bruto. Mas jamais pararíamos de competir. Um de nós venceria e feriria o outro para nunca mais nos vermos. Até lá, riríamos e seríamos adoráveis juntos. Como pequenas pessoas vivendo pequenas vidas de vidro. Preciosos.
Imprecisos no alto madrugada, nossos corpos erram pelas vastas extensões do lençol revolto, tal qual soprasse pela cama o vento que assola o sargaço mar dos trópicos. Não que haja o mistério em proporções tão pequenas quanto a vida privada dos panos e dos amores jovens, mas algo de naufrágio e refúgio salgava os beijos e tornava os toques ásperos. E isso nos fascinava até o fim das horas.
E nos cantos, nos nichos invisíveis das paredes, ardiam as velas. Algo antigo e cego que vivíamos sempre na noite. Eu não gostava do escuro nessas horas, mas era o jeito. Não podia me fingir de cego para o que poderia estar me aguardando na claridade. Qualquer coisa que me desagradasse.
Nos falamos por gestos e palavras que não significam nada fora do espaço delimitado pelo ritual. Somos crédulos quando amamos. E amamos quando amamos. Nada há de inocente e talvez queira-se inculcar culpa até nesses atos supostamente tão livres e caóticos. Paro de julgar quando me dão prazer?
O que dizia sua língua quando ela me provava no calor mais derradeiro desses momentos? E nos momentos de sonho quando meus olhos vem o negro do sono, mas sente o claro clangor dos corpos nos seus calos? Nada que eu pudesse levar comigo para um outro momento no qual eu precisasse de força e consolo. Aquele momento era aviltado de toda uma vida de recordação, mas nunca se acabava naquele momento em que ele era para sempre e nossos braços jamais se desencontraria no chamado da noite.
- Alguém me mata por debaixo dos lençóis. Era o momento que eu esperava desde o início. Era a forma que meu corpo sempre ansiou nas contorções de prazer e nos gritos de dor. Esse é o alívio de que lhe falei. Vamos embora. Adeus.

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