domingo, 5 de fevereiro de 2012

Não quero que voe uma acusação da minha boca, mas é tão difícil quando se está nessa posição. Só nela eu consigo abrir os olhos e ver que sempre foi difícil, por que não podem meus lábios o mesmo? Posso pensar que seria diferente, mas aí o jogo pára. É melhor assim.
Podia dar um toque qualquer, um colorido aqui, mas até que alguém entenda tudo, isso só parecerá o transcrito de um pensamento suado e pesado, de tato áspero e prazer raro. Como alguém quebrado em dois, cujo brilho no olhar desfocado reflete o espelho partido formado por seus membros desencontrados - antecipo a pergunta, como quem fala por cima da música.
Cinza e algo de doce em tudo isso. Eu posso não perguntar por ora. Eu ainda tenho minhas músicas e livros, minhas brumas; e eu posso não entendê-lo também. Tenho que aprender a extrair alívio disso, mesmo que meus punhos golpeiem pedras. Mas não estou mais à salvo, sou caçado por algo que chega por de trás das árvores. E eu não paro jamais, tenho medo. Se não fosse o medo eu não teria nada.
Nada. Medo é tudo que eu tenho, e não o carrego, pelo contrário. Eu o deixo por aí, como quem brinca de que pode esquecer, mas eu sei. E então eu me afio nele.
Disponho do meu corpo todo, nu, mesmo com roupas, e utilizo todos os músculos que posso soerguer nesse bravo e enfadonho esforço. É quase como sexo. E depois eu sinto um certo asco de mim mesmo. Eu vivo por esse desprezo, sentir das minhas palavras o fel por tê-las produzido. Nunca soube sonhar, mas sei me carregar com um misto de ódio e amor que me entretém por ora.
Cada lâmina fina e fria que o medo fez ser a minha pele. Eu corro. É sempre para fora, como o grito horrível das faces que crescem por cima de cada máscara sobreposta até o fim que não há. O medo me é imanente, eu sou o medo intransitivo e atroz, e sou terrível no meu medo, com uma sem-clemência que emociona os mais fracos e passa por cima dos mais fortes. Mas todos tem alguma coisa assim, só que a minha é esse medo, que por fim, não é nada.
Eu porto a máscara e a marca, se alguém me lesse, me diria um proscrito da vida e dos homens, mas poucos o fazem e consigo ser feliz. A música pode acabar a qualquer instante e eu ainda estou aqui, sentado com os olhos vagos e os braços caídos no colo, os pés nos tacos.
Tem um canto para o qual eu olho - para onde eu posso ir se eu não parar de olhar para lá? - como quem tem um canto e nele esquece do mundo e vira pedra. Uma escarpa majestosa um dia eu posso ser sobre o mar, se eu chegasse perto do Sol e com ele escurece as doces mortes que trazem as ondas ao mundo dos homens.

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