sábado, 3 de setembro de 2011

Ocaso

Não mais doce ser da noite, mas
insidiosa senda das brumas infindas nos dias
ah; enfim, o esgar da estática do ocaso último
e a dança das luzes no crepuscular de cada sentir

Mas, por que não sangrar aqui e agora
todo o meu duplo, meus amores em fogo e ganas?
Qual é o medo da acusação de todas primeira e mais justa,
se meus pés são os únicos cujas marcas reconheço
no desfigurar das marcas na ressaca das águas?

Como se perguntas, como se calar-se
pudessem tirar de mim aquilo que sempre soube
desde o berço, o gosto para aquilo
que doí tão mais sem prazer que soa

Mas não, lá vem a manhã e com ela uma reticência
aquela que badala em cada promessa de vida
que verte àurora, glória infinita e urdida no alarido
afinal, é mais uma alma, e mais um porém
que se desfazem até que não mais

E mais uma vez, eu sei
nalgum distante jardim
eu estendo braços sargaços
e nadam as nornas nas horas mornas
de uma tarde ligeira e senil
cujo débil palpitar
encerra todo um coração
que não se cansa de adivinhar
com alegria zombeteira, confesso,
o quão bom é cauterizar-se toda uma vida
nas chamas mais frias e ladinas
e quedar num terrível do ser que só se anuncia

E, agora, bem, resta o fim
(e já nunca mais estive aqui
e era amor tudo que eu deixei para trás
no dia que te odiei e me perdi de todo um viver,
quão não mais canhestro eu me faço
se sei poder seguir, nos fios da vida prima
e silenciar antes do fim das minhas próprias
e longas palavras)

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