domingo, 25 de setembro de 2011

Aurora

Pode se fazer um primeiro movimento?
Que entrem e dancem vossos pés
é a Aurora e não é hora; é palco
que dancem, dancem! mendigos na fogueira
mendigos nos condomínios e no asfalto
abram alas para as caravanas notívagas
"Alto lá" bradam anônimos, os pedestres "lá vão
homens e mulheres os quais o destino não esqueceu de ter"
Passam camelos e ficam as areias. Dunas e então
é simples, é não-mais - oh, mas ainda fazem amor
pobres tolos, pobres tolos

Desponta e ainda é o tempo pequeno que antecede
o grosso e rude do dia das coisas que se fazem em nomes
cada hora tem sua marca, sua luz secreta e trabalhada
para cantá-las tem de se saber no céu contá-las,
chamá-las na língua mais secreta, tais como
os primeiros pássaros a perderem as plumas
e viverem o cimo e as alturas no vislumbrar que ascende
qual é o desprezo que as grandes e simples vidas sentem
ao olhar para baixo e não temerem abismo algum

Primeiros homens, primeiros dias e inumeráveis horas
labuta que anuncia o tempo, discrição falida indesejavelmente
todos lamentam a falta de pudor, mas o Sol tem que nascer
pois ainda resta alguma estrela que sabe que nascer e morrer
é algo que se faz todo dia, antes de qualquer um se dar conta

E eu aqui, tantos mares entre nós
que faço das águas geladas nuvens
e em malva dissolvo minhas ressacas
e me rio de um minha vida seca, bissexta
- minha voz se perde no pós-mundo
como sei que posso falar, se o que digo
se perde no sem-mais de uma hora que não se acaba
até o fim da acústica no vácuo do espaço
ser mais que carbono, doze vezes trágico
e brilhar na estrela negra que se oculta nebulosa -
faço nuvens e teço meus sonhos nos fios gélidos
oca é a cabeça que se deita e dorme
no relento do toque, na superfície da água
(e vive no imo o líquido) cujo toque da luz
não pode romper o gelo
faço nuvens; mão tece amores
e os olhos olvidam preces
que o coração cruel finge que desconhece
até que um dia que não muito tarda
por fim, reluta e sabe que jamais fenece

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