sábado, 21 de maio de 2011

Rascunho

... mas isso agora já fazia tanto tempo. Podia-se esquecer da boca anônima sem grandes dificuldades ou querelas morais.
Por que todos esses movimentos, o peristaltismo compulsório do amor de todas as noites, eram as pétalas da lis símbolo da missão. Missão essa que não o amor, esse amor que dá e se sustenta com tanta leveza, o encaixe idôneo, a premissa sob a qual todos os homens sabem que devem se submeter e se moldar conforme, inescapável promessa, que perpassa a vida, a fé e o sexo. Não esse amor, ele não o procura, pois sabe que a busca é inconsciente e inclemente, tenta portanto não se meter nela para não se atrapalhar mais do que já sabe que faz.
Ele quer a pulsão. Sentir nas mãos ásperas e alheias o vértice da vida, a ameaça última de adivinhar o próprio fim nas linhas das mãos de outros. Quiromante suicida, procura incontinenti seu fim, seu definhar. Quem, dentre todos, pode lhe silenciar por excelência? Quem, capaz de lhe tolher o direito de ser ele mesmo, pode-se tocar nessa noite?

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