sábado, 4 de junho de 2011

Você(s)

- Eu queria que tocasse "The Last Time I Saw Richard" enquanto almoçávamos hoje. Mas, que você visse a sutileza que lhe toco a cada gesto e não me perguntasse nada. Que talvez você entendesse porque, para mim, ser triste não exclui ser feliz e o quão perto de me desfazer no vento eu estou e só restar de mim um chamado brutal e subentendido nas engrenagens da cidade e das ruas. Mas, então, já não estaríamos mais aqui e nada importaria tanto assim de fato. Sim, lhe falo do futuro nosso. Pode agora ver o quão péssimo eu lhe sou? Diga que não, por favor, mesmo que enfim você saiba que sim. Às vezes eu posso ser tão fraco, mais quase sempre eu quase não existo.

- Já você, tão anônimo e nômade em meu coração, você não teria o meu perdão. Não sentiria jamais o sal da minha absoluta anistia em glórias de ganas e pequenas paixões. Não sentiria, porque eu sempre quis me expor, que me pegassem em flagrante e me despissem de minha divindade e de minha figura, que me rissem ricamente, que minha vergonha lhe dilatasse as veias e esquentasse o seu sangue morno - isso que é o meu desejo, o resto é tão pornográfico, quase Bergman e eu não quero isso pra mim. Então me repudie, me renegue, me humilhe em gélido silenciar que essa é a minha hora mais primeira e sublime e dela eu posso ir para onde eu quiser para nunca mais. Só para que eu agradeça ao nada que me escuta tão sempre eu lhe chamo, e lhe deixe enfim. É só mais um elo na corrente, e não será você, de todos, aquele a quem deverei a honra e a vingança ao partí-la. (De tão fácil que é, até eu posso me ser elusivo)

- E claro que eu lhe deixei pro final, você é o grande arquiteto disso tudo. Você foi meu Deus, meu céu e inferno e tão sem metafísica que até hoje eu me espanto com quantas coisas eu ergui sobre um nada quase negativo e insípido, mas não com o quanto eu amei, se não você, algo que me foi dado que não fazia sentido atribuir senão a você. Porém, me resta pegar os meus pedaços reflexos no chão e partir e ser meu próprio começo, senão para ser meu derradeiro Ícaro. Se há algo que posso lhe creditar com certeza é descoberta do meu direito ao drama e da culpa sem pecado, apenas por prazer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário