terça-feira, 19 de junho de 2012

Não pode ter mais do que isso num só momento. Um pequeno furto, ninho de pensamentos roubados para o meu consolo instantâneo - passando apressados como senhoras metodistas de algum lugar ermo no coração velho da cidade.
Testar a precisão das pontas afiadas do corpo na própria carne uma vez mais - há regojizo onde se pode exclamar a existência em sangue e esgar de cego e de voz. Este é um lugar mesquinho, mas para mim é secreto e duro em riquezas. Um santuário cujos patronos são o meu certeiro descaso e incurável juventude, filhos bastardos de outros maiores pecados meus.
- Eu não quero me sentir bem. Isso não é pouco ou muito - é além do desejo e da sorte. Mas não me cai bem.
Não me veste bem o disfarce de algo doce e calmo, pois que anseio pela superficialidade horizontal de um pequeno córrego, que o fluxo das ruas um dia haverá de enterrar vivo. O que de ignominioso aguarda nas fileiras secas da areia e do pó, decantado decalque desbotado de todos os tempos ainda não toados?
Algo do qual não ouso suspeitar ou adivinhar - um pressentimento é um arrepio patológico crônico nas cabeças tortas das crianças - que não pode se aproximar de mim sem que eu viva tudo aquilo de novo e setenta vezes sete vezes outras (sempre mais uma e nenhuma a mais de cada vez). E agora, saber doer nos ossos aquilo que há de bom e dourado dos dias e dos ventos felizes da tarde.
Mas saber esperar é algo que eu não sei. Há muito de idiotia e infantilidade no meu habitar-em-mim das horas todas da vida - não é algo que se ensine ao rosto, como não corar perante à infalível prova? porque matematizo, tenaz, as dobras dos meus dedos e juntos de um a um, sem pressa nenhuma; cercado e secreto por um véu de fantasmas invisíveis que se parecem com os irmãos e amantes que nunca tive.
Voltar ao outro e primeiro lado de mim, como se eu nunca tivesse sempre já nele estado, mesmo porque o mundo é tão sempre muito maior e isso assusta, porque é igualmente bom por isso. Visitar-me e sentar desconfartável na mobília velha e desgastada - severa - em tons fechados que roubam a luz dos olhos que lhes assentam. Opaco; um grito de surdo-mudo ao fundo. Ocaso das cores e dos dias. Restam aos meus pés, as horas infindáveis da morte já anunciada - inescapável batalhão que eu me sou quando da minha fatal execução por traição - morro a morte dos loucos que riem do deus por ignorância e maldade.
(em sonho invoco a dádiva primeira da fome e do querer-tomar-roubar do mundo. mas não é no sonho que vivo a exegêse de um erro eternamente prolongado - a vida em cores da história não contada do que vive além dos dias e sem o tempo em cinzas apagadas do cigarro primordial da negligência balzaquiana da vida burguesa)
- Ah, mas às vezes os dias são tão bonitos e parece que todos com que eu cruzo na rua, me sorriem de volta, tão ternos e gentis. É besteira pensar que as gentes podem falar alguma coisa do que acontece dentro de alguém que é sujo e poluído como todos os rios o são de vida. Um segredo comum dos homens os previne de escarar a falta de decoro que são as emoções mais complexas e sofridas de nossos edifícios mais altos e de granito mais antigo.

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